I. Mercadorias são coisas estranhas.
A. Sua natureza como mercadoria não surge do fato de que as pessoas as produzem. As pessoas produzem bens úteis em todas as sociedades, mas nem todos esses bens são mercadorias.
B. As mercadorias ganham sua natureza peculiar através da troca.
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Quando as pessoas produzem bens para o Mercado, o valor destes bens não é definido pela sua utilidade, mas pela sua virtude de ser trocado por outras coisas.
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O trabalho incorporado nestes bens, da mesma forma, é valorizado não pela sua utlilidade, mas pela sua habilidade de gerar trocas.
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O trabalho das pessoas – ou seja, um aspecto de sua humanidade – se torna, ele próprio, uma mercadoria, a ser comprada e vendida. Diferentes tipos de trabalho podem se equivaler, porque podem ser trocados pela mesma quantidade de bens. O caráter social deste trabalho, assim, acaba sendo visto como uma relação material entre coisas.
C. Assim, quando se olha para a economia, ao invés de se ver um conjunto de relações entre pessoas, vemos um conjunto de relações entre objetos. Uma tonelada de ferro e duas onças de ouro parecem ser “naturalmente” iguais em valor, assim como uma tonelada de cada substância é igual em peso. A relação social que cria esse valor “igual” (ou seja, a quantidade de trabalho que eles incorporam) desaparece da nossa consciência.
II. Economistas esquecem a fonte do valor das mercadorias – o trabalho humano – e descrevem o mundo como se casacos ou botas negociassem com tecidos independentemente da agência humana. Eles não veem que só a produção capitalista trata os bens deste modo, e assim, mistifica relações sociais reais.
A. Outras economias não “escondem” o fato de que a economia é baseada em relações sociais de trabalho.
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A ‘economia’ de Robinson Crusoe não é baseada em mercadorias, mas no trabalho para criar coisas úteis. Esta economia não é mistificada, e a fonte de seu valor – o trabalho – é clara.
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A economia medieval era construída na dependência; os bens eram dados e recebidos na base de relações sociais de dominancia e submissão. Mas estas relações eram evidentes para todos. A economia era vista como o resultado dessas relações sociais, e não como algo separado dos seres humanos.
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O trabalho dos camponeses é assim dominado pela produção-para-o-uso. Aqui, também a origem da economia do trabalho humano é aberta para todos verem.
B. Pode-se imaginar uma comunidade de indivíduos livres, na qual a produção surge da cooperação livre, e na qual os bens são divididos de acordo com o tempo que cada um contribui para a sua produção. Aqui, também, a primazia do trabalho humano na produção dos bens de uso é óbvia.
III. A religião meramente reflete o mundo real.
A. Assim, faz sentido que a sociedade capitalista – que reduz o trabalho humano real a uma abstração – tenha como religião dominante o Cristianinsmo, que reduz os seres humanos reais ao “Homem” abstrato.
B. Outras sociedades não tem sido tão dominadas por mercadorias e negócios. Elas não perderam sua conexão e dependência da natureza, e assim louvam a natureza em suas religiões.
C. Tais mistificações não vão desaparecer até que o processo de produção seja o resultado da livre associação humana, regulada pelos próprios trabalhadores. Para que este tipo de sociedade exista, no entanto, é necessária uma certa base material.
IV. Na sociedade capitalista, a produção controla as pessoas, ao invés do contrário
A. Assim as mercadorias parecem ser independentes das pessoas que as produzem – e parecem governá-las, de acordo com leis “naturais”.
B. Os economistas burgueses veem este fetichismo quando eles olham para formas de vida econômica mais antigas. Por exemplo, eles vem a loucura de tratar ouro e prata como tendo o mesmo valor inerente, ao invés do valor que as pessoas dão.
C. Estes mesmos economistas não enxergam seus próprios fetiches, no entanto. Eles falham em ver, especialmente, que o capital não tem outro valor além daquele que as pessoas o dão através de seu trabalho. E acima de tudo, eles não enxergam que as mercadorias não tem valor em si. Todo o valor das mercadorias vem do trabalho que as cria.
Traduzido e adaptado de http://www.socialtheory.info/commodity_fetishism.htm